quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

DIA MUNDIAL DA POESIA

No dia que deu à Língua Portuguesa três grandes poetas
Vitorino Nemésio (1901-1978)

ARTE POÉTICA 

Vitorino Nemésio
A poesia do abstracto?Talvez. 
Mas um pouco de calor, 
A exaltação de cada momento, 
É melhor. 
Quando sopra o vento 
Há um corpo na lufada; 
Quando o fogo alteou 
A primeira fogueira, 
Apagando-se fica alguma coisa queimada. 
É melhor!
Uma ideia, 
Só como sangue de problema; 
No mais, não, 
Não me interessa. 
Uma ideia 
Vale como promessa, 
E prometer é arquear 
A grande flecha. 
O flanco das coisas só sangrando me comove, 
E uma pergunta é dolorida 
Quando abre brecha. 
Abstracto! 
O abstracto é sempre redução, 
Secura. 
Perde; 
E diante de mim o mar que se levanta é verde: 
Molha e amplia.
Por isso, não: 
Nem o abstracto nem o concreto 
São propriamente poesia. 
A poesia é outra coisa. 
Poesia e abstracto, não.

in, O Bicho Harmonioso


Alexandre O'Neill (1924-1986)


PORTUGAL

Ó Portugal, se fosses só três sílabas, 
Alexandre O´Neill
linda vista para o mar,Minho verde, Algarve de cal, 
jerico rapando o espinhaço da terra, 
surdo e miudinho, 
moinho a braços com um vento 
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo, 
se fosses só o sal, o sol, o sul, 
o ladino pardal, 
o manso boi coloquial, 
rechinante sardinha, 
a desancada varina, 
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos, 
a muda queixa amendoada 
duns olhos pestanítidos, 
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos, 
o ferrugento cão asmático das praias, 
o grilo engaiolado, a grila no lábio, 
o calendário na parede, o emblema na lapela, 
ó Portugal, se fosses só três sílabas 
de plástico, que era mais barato! 

*
Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos, 
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã, 
não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço, 
galo que cante a cores na minha prateleira, 
alvura arrendada para ó meu devaneio, 
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço. 
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo, 
golpe até ao osso, fome sem entretém, 
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes, 
rocim engraxado, 
feira cabisbaixa, 
meu remorso, 
meu remorso de todos nós... 

in, Feira Cabisbaixa


Manoel de Barros (n.1916)

SOBERANIA

Manoel de Barros
Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que
tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo
do vento escorregava muito e eu não consegui
pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso
carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos
deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado
e disse que eu tivera um vareio da imaginação.
Mas que esses vareios acabariam com os estudos.
E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li
alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio.
E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria
das idéias e da razão pura. Especulei filósofos
e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande
saber. Achei que os eruditos nas suas altas
abstrações se esqueciam das coisas simples da
terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo
— o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase:
A imaginação é mais importante do que o saber.
Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei
um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu
olho começou a ver de novo as pobres coisas do
chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas. E
meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam
o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no
corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas
podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as
próprias asas. E vi que o homem não tem soberania
nem pra ser um bentevi.

in, Memórias Inventadas - A Terceira Infância, Editora Planeta - São Paulo

domingo, 9 de dezembro de 2012

DIA MUNDIAL DA POESIA . OPINIÕES

A escolha de… Joana Galvão (8ºB)

MOTIVO
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Cecília Meireles

À DESCOBERTA DOS LIVROS 

Opiniões do 7º A

Eu adorei o dia de a  nossa turma ir à Biblioteca e jogar aquele jogo de encontrar os livros.

Foi muito divertido e entusiasmante! Não me importava de jogar outra vez com a minha turma.
                                       Cláudia Alves
Eu gostei muito de ir à biblioteca. Gostei de ir à descoberta do mundo das letras! Achei uma atividade divertida e interessante.
Beatriz Pereira
 Gostei muito da descoberta dos livros na biblioteca da Escola Secundária Professor José Augusto Lucas, porque deu para nós aprendermos a encontrar os livros que procuramos.
                                                                                                                                       Ricardo Martins
 Eu gostei muito da atividade, pois foi uma maneira divertida de descobrir alguns livros que gostava de ler.
                                                                                                                                         Beatriz Chirife
 Eu gostei muito de ir à biblioteca, pois adoro ler e achei super  giro termos feito o jogo “À Descoberta dos Livros”, que serviu para aprendermos onde podemos ir buscar os livros e sabermos um pouco mais sobre aqueles que nos calharam. 
                                                                                                                                         Carolina Pinto

Eu gostei muito da atividade, pois, como somos novos na escola, ajudou-nos a perceber melhor como encontrar um livro, quando formos à biblioteca. E no final da visita aconselharam-me um livro muito interessante, que de tão interessante que é, cada vez que tento parar de ler uma página, tenho sempre de ler outra e mais outra…
Lydia Sousa

Eu gostei muito da visita à Biblioteca da escola.

A parte que foi mais engraçada foi a segunda parte, quando andámos à procura dos livros. Uns foram mais fáceis e outros mais difíceis, o que tornou o jogo mais divertido.
                                                                                                                                          Miguel Santos

sábado, 8 de dezembro de 2012

DIA MUNDIAL DA POESIA

A escolha de… A PÁGINAS TANTAS
No aniversário do nascimento e da morte de Florbela Espanca

SER POETA


Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
e não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
é ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente!


Florbela Espanca, in, Charneca em Flor

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

DIA MUNDIAL DA POESIA

A escolha de…Inês Rodrigues (8ºB)

RECORDO-TE COMO ERAS
Recordo-te como eras no outono passado.
Eras a boina cinzenta e o coração em calma.
Nos teus olhos lutavam as chamas do crepúsculo.
E as folhas caíam na água da tua alma.

Fincada nos meus braços como uma trepadeira,
as folhas recolhia a tua voz lenta e em calma.
Fogueira de estupor onde a minha sede ardia.
Doce jacinto azul torcido sobre a minha alma.

Sinto viajar os teus olhos e é distante o outono:
boina cinzenta, voz de pássaro e coração de casa
para onde emigravam os meus profundos desejos
e caíam os meus beijos alegres como brasas.

Céu visto de um navio. Campo visto dos montes:
a lembrança é de luz, de fumo, de lago em calma!
Para lá dos teus olhos ardiam os crepúsculos.
Folhas secas de outono giravam na tua alma.
Pablo Neruda

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

DIA MUNDIAL DA POESIA

A escolha de … A PÁGINAS TANTAS
No aniversário do nascimento de Rainer Maria Rilke (1875 - 1926)

A PANTERA

(No Jardin des Plantes, Paris)


De percorrer as grades o seu olhar cansou-se
e não retém mais nada lá no fundo,
como se a jaula de mil barras fosse
e além das barras não houvesse mundo.
O andar elástico dos passos fortes dentro
da ínfima espiral assim traçada
é uma dança da força em torno ao centro
de uma grande vontade atordoada.
Mas por vezes a cortina da pupila
ergue-se sem ruído – e uma imagem então
vai pelos membros em tensão tranquila
até desvanecer no coração.

Rainer Maria Rilke, in, Carrossel e outros poemas, org. e trad. de Vasco Graça Moura