domingo, 20 de janeiro de 2013

Ó PORTUGAL, HOJE ÉS NEVOEIRO…

20 de Janeiro de 1554: nascimento de D. Sebastião

De D. Sebastião interessa-nos sobretudo o mito e o seu profundo rasto na Literatura.
Por isso, usamos o pretexto do aniversário do seu nascimento para reler e dar a ler um dos mais belos poemas de Mensagem de Fernando Pessoa tutelado pelo Sebastianismo. Um poema dramaticamente actual.  


Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…

É a Hora!

               Fernando Pessoa, Mensagem

(E para brincar um pouco, "Os demónios de Alcácer-Quibir" de Sérgio Godinho)



segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

PARABÉNS

aos vencedores do

CONCURSO NACIONAL DE LEITURA - 1ª fase

BÁSICO
Rita Ramos, 8º E
Hugo Botelho, 8º E
Inês Botelho, 8º E



SECUNDÁRIO  
Inês Rodrigues, 10ªB
Guilherme Tavares, 10 ºB
Patrícia Herdeiro, 12º F

Os seis apurados irão representar a Escola na eliminatória distrital, a realizar em abril.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

DIA MUNDIAL DA POESIA

A escolha de... A PÁGINAS TANTAS

No aniversário do nascimento de Al Berto (1948-1997)

O SILÊNCIO TEM

o silêncio tem a espessura das papoulas murchas
e os objectos parecem aproximar-se do sono
inclinam-se para o lado onde se situam os moinhos as ermidas os bosques diluídos
o nítido ladrar dos cães
que horas serão para lá desta fotografia?

com uma grande angular circundo o mosteiro ao morrer do dia
perto dos jardins cheira a laranjas orvalhadas em tua respiração
tenho uma iluminação de astros rebentando do arco-íris da noite
quando abro o diafragma todo para as linhas oblíquas do rosto em
telha quase rubra

o dia desaguou ao fundo das ruas desertas
apresso o passo debaixo do voo das aves
recolho o olhar
onde um fauno vem beber a nocturna nudez das aves

Al Berto, Trabalhos do Olhar


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

JOÃO CABRAL DE MELO NETO e SIMONE DE BEAUVOIR

Parece absurdo associar estes dois nomes tão distintos, mas quis a cronologia dos aniversários que eles se aproximassem. Simone de Beauvoir, a escritora do feminino, nasceu no dia 9 de janeiro (de 1908), tal como João Cabral de Melo Neto, o poeta brasileiro de "Morte e Vida Severina" que nasceu igualmente a 9 de janeiro (de 1920). Aproxima-os ainda a grande literatura do século XX, para a qual ambos contribuíram decisivamente e ainda a voz revolucionária e insubmissa que ambos ergueram. Nunca é demais render-lhes a nossa homenagem, relendo-os.



Tecendo a Manhã 

1 
Um galo sozinho não tece uma manhã: 
ele precisará sempre de outros galos. 
De um que apanhe esse grito que ele 
e o lance a outro; de um outro galo 
que apanhe o grito de um galo antes 
e o lance a outro; e de outros galos 
que com muitos outros galos se cruzem 
os fios de sol de seus gritos de galo, 
para que a manhã, desde uma teia ténue, 
se vá tecendo, entre todos os galos. 

2. 
E se encorpando em tela, entre todos, 
se erguendo tenda, onde entrem todos, 
se entretendo para todos, no toldo 
(a manhã) que plana livre de armação. 
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo 
que, tecido, se eleva por si: luz balão.


João Cabral de Melo Neto (1920-1999)

         in A Educação pela Pedra