A escolha de...João Santos (10ºA)
 
O AMOR, MEU AMOR
Nosso amor é impuro 
como impura é a luz e a água 
e tudo quanto nasce 
e vive além do tempo. 
Minhas pernas são água, 
as tuas são luz 
e dão a volta ao universo 
quando se enlaçam 
até se tornarem deserto e escuro. 
E eu sofro de te abraçar 
depois de te abraçar para não sofrer. 
E toco-te 
para deixares de ter corpo 
e o meu corpo nasce 
quando se extingue no teu. 
E respiro em ti 
para me sufocar 
e espreito em tua claridade 
para me cegar, 
meu Sol vertido em Lua, 
minha noite alvorecida. 
Tu me bebes 
e eu me converto na tua sede. 
Meus lábios mordem, 
meus dentes beijam, 
minha pele te veste 
e ficas ainda mais despida.
Pudesse eu ser tu 
E em tua saudade ser a minha própria espera. 
Mas eu deito-me em teu leito 
Quando apenas queria dormir em ti. 
E sonho-te 
Quando ansiava ser um sonho teu. 
E levito, voo de semente, 
para em mim mesmo te plantar 
menos que flor: simples perfume, 
lembrança de pétala sem chão onde tombar. 
Teus olhos inundando os meus 
e a minha vida, já sem leito, 
vai galgando margens 
até tudo ser mar. 
Esse mar que só há depois do mar. 
Mia Couto, in Idades Cidades Divindades
poetas que nunca elogiaram o doutor Balsemão
Há 13 horas
 
 
 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário