terça-feira, 12 de janeiro de 2010

MORREU A AMIGA DE ANNE FRANK

Miep Gies era, em 1944, uma rapariga simples de Amesterdão que, por um acaso da vida, trabalhava no escritório da empresa cujo proprietário, um judeu alemão refugiado na Holanda, fundara uns anos antes. Quem estivesse atento, vê-la-ia, diariamente, chegar àquele prédio do centro da cidade, à beira de um dos inúmeros canais, carregada de sacos. Discretamente, laboriosamente, solidariamente, a jovem Miep transportava comida, livros, jornais, até ao anexo onde o seu patrão se escondera com a família e uns amigos também judeus, para escaparem à deportação, porque Hitler tinha já ocupado a Holanda. Para os ajudar, Miep arriscou a vida durante dois anos. Até que um dia, em Agosto de 1944, os nazis invadiram o anexo, prendendo e mandando para os campos de extermínio todos os seus ocupantes.
Miep Gies conseguiu a coragem necessária para subir ao anexo vazio, olhar a desordem dos parcos haveres dos seus ocupantes espalhados pelo chão, e pegar, comovida, num pequeno diário forrado com uma capa vermelha, xadrez. Era o diário da filha mais nova do seu patrão, agora presa e a caminho da morte. Chamava-se Anne Frank, tinha 15 anos e sonhava ser escritora quando a guerra acabasse.

Quando depois da guerra o patrão de Miep, que sobreviveu ao horror de Auschewitz, regressou a Amesterdão, soube que aquele diário - que tinha oferecido à sua filha no dia do 13.º aniversário e agora recebia escrito das mãos da secretária - era tudo o que lhe restava do passado, pois todos tinham morrido.

Em 1947, o Diário de Anne Frank foi publicado. É hoje, um dos livros mais lidos no mundo inteiro.

Miep Gies, a guardiã do Diário de Anne Frank, morreu ontem na Holanda. Tinha 100 anos.

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