Uma biblioteca é um lugar onde se encontram portas secretas para outros mundos: abrindo-se um livro, atravessa-se uma fronteira.
Há inúmeros livros acerca de bibliotecas.
Evocando alguns, um pouco arbitrariamente, ao correr da minha memória, começo por falar de O Nome da Rosa. Existe, nessa história sobre uma série de crimes, quem seja assassinado por causa de um segredo. Tal segredo diz respeito a um livro. Por sua vez, o livro em causa encontra-se na biblioteca de um mosteiro medieval, já de si uma concentração de saberes diligentemente copiados por monges, onde a tradição e a inovação entram, por vezes, em choque.
Se quisermos dar um salto do passado para o futuro, podemos referir Fahrenheit 451. Trata-se de um romance maravilhoso, sobre o qual conversámos aqui mesmo, na Biblioteca da escola, no decurso de uma tertúlia. Numa sociedade de onde toda a escrita e toda a leitura foram banidas, porque o Poder as considera potencialmente perigosas, a biblioteca que os homens inventam é uma biblioteca humana, isto é, em que os livros são as próprias pessoas - aqueles resistentes que memorizam textos inteiros, ou capítulos essenciais, de modo a que a literatura se não perca nessa sociedade onde os derradeiros livros detectados são postos a arder...
Entre estes dois pontos extremos, encontramos outras bibliotecas: por exemplo, em O Homem sem Qualidades é-nos descrita uma biblioteca e, mais do que isso, um bibliotecário extraordinário, cuja função o obriga a uma visão de conjunto dos livros - o que, por outro lado, o impede de ler qualquer um deles em particular...(Curioso e terrível paradoxo, não é?)
Temos a Biblioteca de Babel, de Borges. Ou a biblioteca, no colégio de Harry Potter, onde se encontram os livros proibidos, que só sob o manto da invisibilidade podem ser procurados pelos jovens curiosos. E, muito mais recentemente, A Sombra do Vento, de Zafón, que guarda todo o mistério das novelas do século XIX, e onde um livro estranhíssimo (e com uma longa História) é escolhido por Daniel, uma personagem romântica, entre os labirintos de uma
biblioteca profunda, com qualquer coisa de diabólico...
Acredito que a biblioteca da nossa escola é, também, um lugar mais obscuro e secreto do que poderá parecer à primeira vista. Sob um ruído persistente, sob a dispersão de alunos que se interessam mais pela internet do que por livros, sob um soalho deprimente (que talvez venha a ser mudado em breve), algumas surpresas do outro mundo nos aguardam. Serenamente. Tranquilamente. (Aparentemente...)
na próxima sexta
Há 12 horas
Sem palavras breves, Zé António. Para comentar o teu texto, só um outro texto. Não tenho outro remédio que não seja inaugurar a minha entrada neste blogue...
ResponderEliminarAcabo de descobrir este blog e tenho algum gosto em fazê-lo. Com pena minha, não tive conhecimento da tertulia. De qualquer forma e indo de encontro ao que penso ter sido o assunto posso dizer que já li o livro de Záfon e gostei imenso, aliás, já li dois. E por muito que tenha aquele preconceito, às vezes, contra estes livros que acabam por ser best-sellers( nem eu sei bem porquê) é um autor que faz histórias que me cativam. Em relação ao assunto em geral, acho verdadeiramente fascinante ler livros que contam histórias de livros. É um jogo engraçado.
ResponderEliminarE por último admito que não li nem conhecia o Fahrenheit 451, mas já fico alerta.
Muito brevemente me despeço! (E a ver se fico mais atenta ao que se passa...)