A escolha de… Jorge Marrão
CONTRIBUIÇÃO PARA A ESTATÍSTICA
Em cada cem pessoas
sabendo de tudo mais do que os outros
- cinquenta e duas,
inseguras de cada passo:
- quase todas as outras,
prontas a ajudar, desde que isso não lhes tome muito tempo:
- quarenta e nove, o que já não é mau,
sempre boas porque incapazes de ser de outro modo:
- quatro; enfim, talvez cinco,
prontas a admirar sem inveja:
- dezoito,
induzidas em erro
por uma juventude afinal tão efémera:
- mais ou menos sessenta,
com quem não se brinca:
- quarenta e quatro,
vivendo sempre angustiadas
em relação a alguém ou a qualquer coisa:
- setenta e sete,
dotadas para serem felizes:
- no máximo vinte e tal,
inofensivas quando sozinhas
mas selvagens quando em multidão:
- isso, o melhor é não tentar saber nem mesmo aproximadamente,
prudentes depois de o mal estar feito:
- não mais do que antes,
não pedindo nada da vida exceto coisas:
- trinta, mas preferia estar enganada,
encurvadas, sofridas,
sem uma lanterna que lhes ilumine as trevas:
- mais tarde ou mais cedo, oitenta e três,
justas:
- pelo menos trinta e cinco, o que já não é nada mau,
mas se a isso juntarmos o esforço de compreender:
- três,
dignas de compaixão:
- noventa e nove,
mortais:
- cem por cento,
número que, de momento, não é possível alterar.
Wislawa Szymborska
Acúfenos, María Rosa Maldonado, Kriller 71
Há 2 horas
Sem comentários:
Enviar um comentário