terça-feira, 24 de novembro de 2009

E ASSIM FOI 3 NUNOS

Com a imperfeição que é própria dos grandes momentos e de tudo quanto vale a pena, realizou-se, na Biblioteca, a sessão que anunciáramos: os 3 Nunos.

Agora, está esquecida a série de trapalhadas com que nos debatemos para a pôr de pé: falta de tempo, ensaios insuficientes, negociações árduas com professores, para que nos cedessem a sua hora de aula - e cuja boa vontade agradecemos -, nervosismos de vários tipos. Ecoa ainda o que, isso sim, conta, o que fica, o que é lembrável: uma «sala cheia», o sacrifício de alunos que avançaram em luta contra o seu cansaço ou contra a sua timidez, a informalidade, a limpidez daqueles poemas, o humor das interpretações que foram feitas de certas pinturas, ou o empenho dos violas que nos ofereceram os acordes da música do Prata.

As afinidades soltaram-se no ar. E foram lindas de ouvir e ver, de ouvir-ver. (Não se esqueçam que se trata do Projecto Ouvisões).

Um agradecimento aos rapazes que tão bem disseram os poemas de Nuno Morais: João d'Eça, João Álvaro, Paulo Dias, Ruben Silva, Miguel Baptista.
Ao Bernardo e à Verónica, que, com tanto sentido de humor e sentido do trágico e do sinistro, nos foram propondo as surpreendentes pinturas de Nuno Viegas.
Ao André Silva e ao Luís Delgado, que aplicadamente apreenderam a dificílima melodia e no-la deram a respirar.

















Este é simplesmente um primeiro lote de fotografias que foram tiradas. Nem todos os intervenientes aparecem retratados, mas outras fotos há, que podem ser vistas aqui.

domingo, 22 de novembro de 2009

3 NUNOS

Nuno Morais foi um poeta português, que morreu ainda jovem.
A sua poesia, reunida num volume com o tragicamente premonitório título de Últimos Poemas, constitui um livro muito belo de todos os pontos de vista, em que a delicadeza dos sentimentos ou o humor contido na percepção da realidade nos colocam em face de ângulos imprevisíveis, modos incomuns de pensar, sentir e exprimir.

O segundo Nuno de que vos quero falar é Nuno Viegas, o pintor. E embora haja quem detecte nele influências evidentes (como, por exemplo, a de Paula Rego), a sua visão é, também, sempre um factor de perplexidade. As pinturas que apresenta trazem uma história imaginável - mas, dessa história, que não conheceremos na totalidade, o que Viegas capta é o momento mais inesperado, o mais tenso, o mais desequilibrado; o mais estranho, o mais sinistro ou o mais divertido.




E, porque estamos em maré de Nunos, o último é Nuno Prata, igualmente um jovem, mas, neste caso, compositor e cantor. Aquilo a que já ouvi chamar um cantautor! Que nos interessa neste Nuno final? Adivinharam. O dom de nos surpreender com uma música em que o amor é cantado sem que se caia no lugar comum, na fórmula gasta. E, na minha opinião, a própria melodia evolui como os nossos ouvidos não previam nem supunham.

Para quem queira vir surpreender-se, 3 Nunos é o nome da sessão em que, a 24 de Novembro (amanhã), pelas 10. 20, a Biblioteca se tornará palco de um fascinante exercício de afinidades, cruzamentos, encontros e, quem sabe?, desencontros...

Pela voz de vários alunos, a poesia de Nuno Morais, a pintura de Nuno Viegas, a música de Nuno Prata.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

HISTÓRIAS COM VÁRIOS SABORES










Num encontro promovido pelo projecto aLer+ e pela professora de Língua Portuguesa, Paula Varela, o 7º E recebeu ontem algumas visitas, cada uma com sua história, vinda de distantes paragens. A Carla Gonçalves, do 7ºA, trouxe uma fábula da Guiné, ensinada pelo avô, “O Sapo e a Lebre”, a Maria de los Angeles Yao Y Chen e a Laura Chen Zhang, do 10º F, duas histórias da China, “Os Macacos e a Lua” e “O Desenho da Serpente”. Por sua vez, e para retribuir o presente, os anfitriões representaram com grande entusiasmo e algum humor histórias tradicionais portuguesas – “Os Dez Anõezinhos da Tia Verde Água”, “O Velho, o Rapaz e o Burro”, “Frei João sem Cuidados” – e o conhecido “Capuchinho Vermelho”. Os empenhados contadores foram o João Tiago Gonçalves, o Daniel Santos, a Mafalda Neves, a Rita Marques, a Joana Leite, a Andreia Monteiro e a Beatriz Neves.

Todos escutados com grande atenção e muito aplaudidos pela assistência, que deu algumas opiniões. Oportunamente as divulgaremos. Para já, ficam as imagens e os parabéns.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

2007: 1º PRÉMIO DE POESIA

PASSA UM NAVIO AO LARGO DOS MEUS OLHOS*

o presente é um esboço de desenho, de poema
uma música trauteada com a ajuda de longos dedos
descarnados, uma fotografia desapurada com o pior
enquadramento da cidade, talvez
um reflexo da córnea inflamada.

o presente que abraço é a realidade que há muito
findou para os outros.
retenho maquinalmente ou infiltro por osmose
a gota de chuva, caindo aos pés da criança de cabelos
desgrenhados e ponta do nariz suja de lama,
o jornal gratuito deixado ao abandono e chicoteado por um
deus qualquer,
o navio que parte levando consigo os homens da Lisboa para
o horizonte:
é já ali em frente!, aponta o marinheiro à jovem amada.

alimento-me de memórias armazenadas ao acaso,
perdidas em sinapses de uma cabeça doente
cujo crânio é quebrado
por uma chuva de olhares, invadido pela febre
crónica de um coração frouxo
e anacronismos crassos,
continuamente assaltado pela questão da veracidade da
sua existência.

Se vivo, viver é apenas sonhar?
não creio, ou seria provável humanidade significar um
ajuntamento de animais estáticos e extasiados nas suas
próprias quimeras.
(será possível esta realidade?)

deambulo pela minha Lisboa e anseio, sem saber por que razão,
tropeçar na vida - quem sabe, numa madrugada ébria.
por enquanto,
encubro a própria morte bebendo em estranhos e aprendendo
o ofício de sentir.

Susana Quartin Alves da Silva


*
Verso de Miguel Torga, escolhido como tema do Concurso Literário de 2007, ano de comemoração do centenário do nascimento do poeta

domingo, 15 de novembro de 2009

CONTINUANDO À VOLTA DOS LIVROS

E ainda vagamente a pretexto de livros, não resisto a transcrever esta passagem que, entre outras qualidades, me parece tão sugestiva e tão bem escrita:

«Vejo-o, por exemplo, atrás do balcão no seu fato preto impecável, o cabelo bem penteado, a cara pálida de contornos definidos. Quando entra um cliente, coloca com cuidado o seu cigarro aceso no rebordo do cinzeiro e, esfregando as mãos magras, satisfaz zelosamente as necessidades do comprador. Por vezes - em particular se for uma senhora - faz um sorriso débil para exprimir condescendência para com os livros em geral, ou talvez escarnecendo de si próprio no papel de vulgar vendedor, e dá conselhos valiosos - isto vale a pena ler, ao passo que aquilo é um tanto pesado; aqui descreve-se de um modo assaz divertido a eterna guerra dos sexos e este romance não é profundo, mas é muito fresco, muito inebriante, sabe, como champagne. E a dama que tinha comprado o livro, a dama de lábios vermelhos e casaco de peles preto, leva consigo a imagem fascinante: aquelas mãos delicadas pegando nos livros com alguma falta de jeito, aquela voz contida, aquele sorriso fugaz, aqueles modos admiráveis. Em casa dos Khrustchov, porém, Smurov [que é, obviamente, a personagem que tem estado a ser descrita] começava já a causar uma impressão algo diferente numa certa pessoa.»

Este excerto, que é uma lição completa, foi escrito por Vladimir Nabokov. Encontra-se num livro chamado O Olho. Traduzido - e muito bem - por Telma Costa e editado pela Teorema.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

ATENÇÃO, SUSANA QUARTIN!

Susana:

1. Gostaríamos que nos autorizasse a publicar, neste blogue, o maravilhoso texto - e não falo de cor, estou com ele nas mãos - com o qual ganhou o 1º prémio de poesia, num concurso promovido pela Biblioteca desta escola, em 2007.

2. Mas quando pedia que entrasse em contacto connosco, falava a sério: estamos interessados em envolvê-la em alguns projectos voltados para a comemoração dos 30 anos da ESLAV, que passará a chamar-se oficialmente E. S. José Augusto Lucas. Poderá contactar com o Centro de Recursos, através do endereço que encontra no site.

3. Obrigado.

COLÓQUIO Travessias Poéticas

Um colóquio a não perder.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

"PARAR PARA LER" SEGUNDO ALGUNS ALUNOS DO SÉTIMO B

«Os verdadeiros leitores têm gosto de ler desde que nascem; os inteligentes aprendem-no.»
Afonso Gonçalves, nº 1

«Como eu não tenho quase tempo nenhum para ler, foi bom adiantar o meu livro.»
Gonçalo Silva, nº 8

«Acho que foi bastante enriquecedor, e até acho que se devia fazer isto todas as semanas. Quem teve esta ideia deve ser premiado, pois foi uma excelente ideia.»
Guilherme Tavares, nº 9

«Achei o Parar Para Ler muito interessante e engraçado porque, se repararmos bem, toda a escola estava a ler...!!!»
Joana Devesa, nº 12

«Eu achei o projecto Parar Para Ler muito interessante, porque a escola estava toda em silêncio. Nós, a turma +, estávamos na aula de Matemática, e no Pavilhão A não se ouvia barulho nenhum. A escola estava, até, mais silenciosa do que uma biblioteca.»
Leonor Costa, nº 16

«Eu não gostei muito, porque não gosto de ler, mas no fundo foi engraçado.»
Ricardo Pascoal, nº 24

«Eu achei o Parar Para Ler uma actividade engraçada e que me motivou para ler. Esta actividade é simples e ao mesmo tempo sofisticada.»
Sofia Leong, nº 26

«Foi um momento mágico... divertido... de sossego... e calma!»
Tomás

domingo, 8 de novembro de 2009

QUADROS COM BIBLIOTECAS DENTRO

O texto do Zé António pisca-me o olho, quer dizer, provoca-me a divertida estranheza dos jogos de espelhos. Explico-me melhor. Quando o li, achei que poderia ter sido eu a escrevê-lo. Gostava de o ter escrito.

Sempre gostei de livros com livros dentro. Como ele. E nas nossas afinidades electivas, podemos escrever Jorge Luís Borges, Musil, Umberto Eco e mais recentemente Carlos Ruiz Zafón, tudo gente que habitou - habita - a Biblioteca por dentro dos livros, dos seus livros.
Também, como todos eles, pressinto que a Biblioteca é um labirinto que reflecte e multiplica, (quase) até ao infinito, os nossos labirintos interiores.
Das portas que se abrem nas suas paredes, só quem nunca leu um livro não sabe. Imaginemos que cada livro, em cada prateleira, em cada estante, em cada fila, é, não uma, mas muitas portas! É que é mesmo! Portas para mundos que sem os livros jamais alcançaríamos – alguns são-nos completamente alheios, outros já eram nossos, escondidos nos corredores obscuros do nosso ser. É por isso que ler um livro nos afasta e ao mesmo tempo nos aproxima de nós mesmos. Nos dá a ler os outros, na exacta medida em que nos devolve a leitura do nosso eu mais interior.

Enfim, falávamos de LIVROS COM BIBLIOTECAS DENTRO e eu lembrei-me – como não me lembrar?... – de QUADROS COM BIBLIOTECAS DENTRO.
Quando, em viagem, visito museus, páro sempre mais tempo diante dos quadros com livros. Há muitos, dos livros religiosos nos frescos medievais e no Barroco meridional, aos livros nas mãos de burgueses ilustrados do Classicismo protestante ou aos livros languidamente caídos no regaço das meninas do século XIX. Depois há os livros do Arcimboldo, de Van Gogh, de Picasso, de Mondrian e sobretudo os melancólicos livros de Hopper, companheiros da insuportável solidão contemporânea.

Mas entre todos os pintores que sentiram o apelo sensitivo, visual, plástico dos livros, Maria Helena Vieira da Silva é, sem sombra de dúvida, aquela que mais e melhor pintou a BIBLIOTECA. Logo ela, portuguesa, nascida num país que pouco lê e que, quando ela nasceu em 1908, tinha cerca de 80% de pessoas analfabetas...

Olhemos, por momentos, a “Biblioteca em Fogo”. É um quadro do ano mágico de 1974, e podemos vê-lo ao vivo no belíssimo Museu Vieira da Silva, no Jardim das Amoreiras – do melhor que Lisboa tem para nos dar. Olhemos bem para dentro do quadro e escutemos o crepitar do fogo que se desprende do fundo, bem fundo, dos livros. É o mistério das portas que se abrem, infinitamente, dentro dos livros. E dentro de nós.

Era disso que falavas quando falavas da Biblioteca da nossa Escola, Zé António? Também eu acredito que ela guarda muitos mistérios. Saibamos nós incendiar os olhos.

"A Biblioteca em Fogo", pintura de M.ª Helena Vieira da Silva

sábado, 7 de novembro de 2009

LIVROS COM BIBLIOTECAS DENTRO

Uma biblioteca é um lugar onde se encontram portas secretas para outros mundos: abrindo-se um livro, atravessa-se uma fronteira.

Há inúmeros livros acerca de bibliotecas.
Evocando alguns, um pouco arbitrariamente, ao correr da minha memória, começo por falar de O Nome da Rosa. Existe, nessa história sobre uma série de crimes, quem seja assassinado por causa de um segredo. Tal segredo diz respeito a um livro. Por sua vez, o livro em causa encontra-se na biblioteca de um mosteiro medieval, já de si uma concentração de saberes diligentemente copiados por monges, onde a tradição e a inovação entram, por vezes, em choque.

Se quisermos dar um salto do passado para o futuro, podemos referir Fahrenheit 451. Trata-se de um romance maravilhoso, sobre o qual conversámos aqui mesmo, na Biblioteca da escola, no decurso de uma tertúlia. Numa sociedade de onde toda a escrita e toda a leitura foram banidas, porque o Poder as considera potencialmente perigosas, a biblioteca que os homens inventam é uma biblioteca humana, isto é, em que os livros são as próprias pessoas - aqueles resistentes que memorizam textos inteiros, ou capítulos essenciais, de modo a que a literatura se não perca nessa sociedade onde os derradeiros livros detectados são postos a arder...

Entre estes dois pontos extremos, encontramos outras bibliotecas: por exemplo, em O Homem sem Qualidades é-nos descrita uma biblioteca e, mais do que isso, um bibliotecário extraordinário, cuja função o obriga a uma visão de conjunto dos livros - o que, por outro lado, o impede de ler qualquer um deles em particular...(Curioso e terrível paradoxo, não é?)

Temos a Biblioteca de Babel, de Borges. Ou a biblioteca, no colégio de Harry Potter, onde se encontram os livros proibidos, que só sob o manto da invisibilidade podem ser procurados pelos jovens curiosos. E, muito mais recentemente, A Sombra do Vento, de Zafón, que guarda todo o mistério das novelas do século XIX, e onde um livro estranhíssimo (e com uma longa História) é escolhido por Daniel, uma personagem romântica, entre os labirintos de uma
biblioteca profunda, com qualquer coisa de diabólico...

Acredito que a biblioteca da nossa escola é, também, um lugar mais obscuro e secreto do que poderá parecer à primeira vista. Sob um ruído persistente, sob a dispersão de alunos que se interessam mais pela internet do que por livros, sob um soalho deprimente (que talvez venha a ser mudado em breve), algumas surpresas do outro mundo nos aguardam. Serenamente. Tranquilamente. (Aparentemente...)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

As Vozes do Rio Pamano

As Vozes do Rio Pamano» é um romance de fôlego acerca das complexas histórias individuais que se ocultam por detrás da história da Guerra Civil de Espanha, cujas reminiscências perduraram ao longo de toda a transição do país para a democracia e que ainda hoje se fazem sentir, marcando a memória colectiva espanhola.Certo dia, no ano de 2001, uma professora e fotógrafa desloca-se à povoação de Torena para recolher material didáctico da velha escola que está prestes a ser demolida. Esta trivial circunstância irá desencadear a revelação de um enredo complexo, pois Tina toma posse de um caderno manuscrito que ali permanecera escondido ao longo de décadas e que contém as memórias do mestre-escola, numa carta que nunca chegou ao seu destinatário. Pouco a pouco, interpelada pelas experiências e pelos factos contados por Oriol Fontelles, Tina deixa-se envolver na memória histórica da aldeia, situada no epicentro da repressão franquista. E assim o leitor fica a saber como as coisas se passaram em Torena: assassínios e vinganças; jogos de poder e influência; medo e intimidação; combatentes da resistência, fascistas e heróis anónimos, cujas vidas permaneceram envoltas na bruma dos tempos e do esquecimento, obliteradas pela reescrita da propria história