quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

LIVROS e LEITORES


Outros dois encontros, em que as leituras pessoais estiveram também em destaque, seria imperdoável não divulgar: um ainda em Dezembro, exactamente na última semana de aulas, o outro logo a seguir ao pequeno-almoço com o senhor Descartes (ainda havia chá...).

Os alunos do 10º C, com a professora Maria João Lima, aceitaram deixar o espaço de conforto, como se diz agora, da sala de aula, e convidar outra turma, o 9º D, para assistir à apresentação de dois livros do contrato de leitura. Dois títulos de qualidade indiscutível, e muito diferentes entre si, sendo também muito diversas as abordagens realizadas. O grupo que falou sobre o romance de Marina Mayoral, Tristes Armas, trouxe vasta e variada informação, sobre a autora, claro, mas sobretudo sobre o fundo histórico em que a narrativa se constrói, a Guerra Civil de Espanha, realidade terrível, desconhecida para a maioria dos assistentes, e que aconteceu aqui tão perto e há tão pouco tempo. O segundo título, o clássico e belíssimo O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway, prestava-se a uma leitura menos factual e mais simbólica. e foi exactamente o que fizeram ambos os alunos que a apresentaram, curiosamente feita individualmente, dando oportunidade ao confronto e complementaridade de duas perspectivas.

O segundo encontro foi o regresso da RODA DE LVROS do agora 11º B, que tanto nos tinha encantado, nas edições anteriores.

Um pouco entorpecida de início, a Roda demorou um nadinha a deslizar, mas, depois de começar, recuperou a já conhecida agilidade e leveza. Sem papéis nas mãos, a memória das páginas lidas, a visão crítica e pessoal, a conversa.

A turma está diferente, mas não está. Quer dizer, há algumas caras novas, mas parece que sempre pertenceram ao grupo, não se nota estranheza ou inibição. Se calhar, é um dos segredos para que as coisas corram tão bem!

Quanto aos livros, o primeiro foi o Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hide, o conhecido e apaixonante clássico de Robert Louis Stevenson. Seguiu-se-lhe uma emocionada apresentação de Marina, o último romance editado em Portugal do catalão Carlos R. Zaffon, o autor de A Sombra do Vento. Já só houve tempo para o terceiro volume da tetralogia As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley.

E resta-nos pedir para não demorar muito, a próxima RODA. Somos fãs!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O RISCO DOS PEQUENOS-ALMOÇOS


Sim senhor, sim senhor. Hoje, tivémos a segunda visita de monsieur Descartes.
Para mais duas turmas décimo-primeiro anistas, A e C, organizou a Biblioteca/CRE da escola um pequeno-almoço que, não desfazendo, correu particularmente bem.

Foram guiadores de visita os alunos, do 11º A, Diogo Cunha e Helena Cordeiro. As apresentações foram seguras e as intervenções dos mais diversos alunos eram de uma grande perspicácia, mesmo quando se fechavam numa certa teimosia. Mas não queria repetir o que já disse, em post anterior, acerca da sessão em si mesma. Portanto, conto antes que, há dias, quando, na aula, descrevia à turma o que se iria passar nesse pequeno-almoço a sério, onde, à volta da mesa, conversaríamos acerca da filosofia de René Descartes, o Diogo Cunha seguia o meu entusiasmo com um olhar céptico. Como se pensasse para os seus botões: «Hum! Tanta lantejoula para quê?»
Hoje, após a sessão, não resisti e perguntei-lhe: «Então, que tal?»; e assim falou o Diogo, parando de mastigar a tosta com compota que, visivelmente, lhe estava a saber muito bem: «Foi excelente!»; retruquei (grande palavra): «Sim, mas confesse lá. O Diogo estava muito deconfiado, não estava?»; e ele: «Porque era um risco, professor. Correu-se um risco: parecia-me uma daquelas ideias que se, na prática correm mal, dão muito mau resultado...»

Eu sei. A afirmação do Diogo não foi uma crítica, mas um elogio: reconhecer que toda a diferença implica algum risco - e, já agora, que a Biblioteca da escola é, e tem sido, desde há muitos anos, um lugar onde se correm riscos, e se sofrem frustrações, claro, mas se realizam sessões ímpares, é o maior elogio que pode ser feito. Ainda bem que o chá vos soube bem. Descartes, de onde quer que vos viu, gostou certamente do que viu.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

PEQUENO-ALMOÇO COM DESCARTES

A manhã do dia 17 foi marcada por uma surpresa que esperava, na Biblioteca, alguns alunos de 11ºs anos (E, F): um pequeno-almoço.

No lugar sagrado que é uma Biblioteca estava-se perante a possibilidade de uma refeição que também só poderia ser uma refeição sagrada, uma oferenda, um ritual: chá, tostas com compota ou mel e biscoitos constituíram os alimentos de um pequeno-almoço em que o convidado central foi o filósofo René Descartes.

O pretexto era a leitura de um livro, que encontram na Biblioteca, e cujo título é Pequeno-almoço com Sócrates. O título é deliberadamente redutor, aludindo simplesmente a um conceito: «Sócrates» não é Sócrates, é todos os filósofos sobre que o livro vai falando - e, já agora, «pequeno-almoço» também não é só o pequeno-almoço, mas símbolo de todas as actividades corriqueiras e quotidianas (como ir ao ginásio, preparar uma festa, fazer compras, discutir com o parceiro...) que preenchem mecanicamente a nossa existência. Não pensamos acerca delas: e, todavia, são pensáveis, na sua significação filosófica ou nas perplexidades em que nos envolvem quando sobre elas reflectimos. Mais: o autor mostra-nos como, de algum modo, os mais simples actos humanos, nas suas implicações éticas e políticas, já foram matéria de uma meditação por parte dos filósofos, desde Sócrates até aos contemporâneos.

Dois alunos do 11º E guiaram a conversa: a Mariana Amor e o João Ramos, em torno da ideia do «acordar», suscitavam perguntas que, a cada passo, nos transportavam para Descartes. O fantasma do filósofo acompanhava o diálogo. E se não interveio directamente, os seus problemas foram invocados. E debatidos.

Proximamente, haverá um outro pequeno-almoço. Valha-nos Descartes!