Quero acreditar que o Eugénio de Andrade me perdoaria o abuso do seu título, se tivesse assistido à oficina animadíssima que, logo de manhãzinha, encheu a Biblioteca de cores, aromas, risos e ideias a crescer por todos os lados.
É preciso primeiro explicar que o 9º E está mais uma vez a pôr à prova a sua criatividade (lembram-se das ilustrações de poemas e dos DVDs gravados no ano passado?). O ponto de partida, desta vez, foi o envolvimento da turma no Programa Pessoa e, em E.V., a escolha de um fruto por cada um dos alunos, que já o desenhou e já procurou, também, as palavras mais certas para o descrever. Alguns já tinham também pesquisado títulos de livros e de poemas contendo nomes de frutos, quando, na passada quinta-feira, nos reunimos para mais uma sessão dedicada a saborear o prazer da leitura e da escrita.
Dos textos lidos, o primeiro um diálogo muito invulgar, em que um certo Virgílio se esforça por explicar a uma certa Beatriz como é uma pera (Yann Martel, Beatriz e Virgílio, ed. Presença),o segundo retirado de mais um daqueles livros em que a imaginação e o nonsense de Roald Dahl dão resultados sempre imprevisíveis (James e o Pessegueiro Mágico, ed. Terramar), aqui fica um breve fragmento:
BEATRIZ: Mas a que sabe? Não aguento mais.
VIRGÍLIO: Uma pêra madura transborda de suculência doce.
BEATRIZ: Oh, isso parece bom.
VIRGÍLIO: Corta uma pêra e verás que a sua polpa é de um branco incandescente. Brilha com uma luz interior. Aqueles que trazem consigo uma faca e uma pêra nunca têm medo do escuro.
BEATRIZ: Tenho de provar uma.
VIRGÍLIO: A textura de uma pêra, a sua consistência, é outra coisa difícil de pôr em palavras. Algumas peras são um tudo-nada crocantes.
BEATRIZ: Como uma maçã?
VIRGÍLIO: Não, nada parecido com uma maçã! Uma maçã resiste a ser comida. Uma maçã não é comida, é conquistada. A qualidade crocante de uma pêra é muito mais atraente. É generosa e frágil. Comer uma pêra é semelhante a... beijar.
BEATRIZ: Oh, céus! Parece tão bom.
VIRGÍLIO: A polpa de uma pêra pode ser ligeiramente granulosa. Contudo, derrete-se na boca.
BEATRIZ: Tal coisa é possível?
VIRGÍLIO: Com todas as peras. E isso é só o aspecto, o toque, o cheiro, a textura. Ainda nem te falei do sabor.
BEATRIZ: Meu Deus!
VIRGÍLIO: O sabor de uma boa pêra é tal que, quando se come, quando os nossos dentes mergulham na beatitude da polpa, isso torna-se uma actividade absorvente. Não se quer fazer mais nada além de comer a nossa pêra. Prefere-se estar sentado do que em pé. Prefere-se estar só do que acompanhado. Prefere-se o silêncio à música. Todos os sentidos, excepto o paladar, ficam inactivos. Não se vê nada, não se ouve nada, não se sente nada... ou apenas na medida em que nos ajude a apreciar o sabor divinal da nossa pêra.
BEATRIZ: Mas a que sabe ao certo?
É preciso primeiro explicar que o 9º E está mais uma vez a pôr à prova a sua criatividade (lembram-se das ilustrações de poemas e dos DVDs gravados no ano passado?). O ponto de partida, desta vez, foi o envolvimento da turma no Programa Pessoa e, em E.V., a escolha de um fruto por cada um dos alunos, que já o desenhou e já procurou, também, as palavras mais certas para o descrever. Alguns já tinham também pesquisado títulos de livros e de poemas contendo nomes de frutos, quando, na passada quinta-feira, nos reunimos para mais uma sessão dedicada a saborear o prazer da leitura e da escrita.
Dos textos lidos, o primeiro um diálogo muito invulgar, em que um certo Virgílio se esforça por explicar a uma certa Beatriz como é uma pera (Yann Martel, Beatriz e Virgílio, ed. Presença),o segundo retirado de mais um daqueles livros em que a imaginação e o nonsense de Roald Dahl dão resultados sempre imprevisíveis (James e o Pessegueiro Mágico, ed. Terramar), aqui fica um breve fragmento:
BEATRIZ: Mas a que sabe? Não aguento mais.
VIRGÍLIO: Uma pêra madura transborda de suculência doce.
BEATRIZ: Oh, isso parece bom.
VIRGÍLIO: Corta uma pêra e verás que a sua polpa é de um branco incandescente. Brilha com uma luz interior. Aqueles que trazem consigo uma faca e uma pêra nunca têm medo do escuro.
BEATRIZ: Tenho de provar uma.
VIRGÍLIO: A textura de uma pêra, a sua consistência, é outra coisa difícil de pôr em palavras. Algumas peras são um tudo-nada crocantes.
BEATRIZ: Como uma maçã?
VIRGÍLIO: Não, nada parecido com uma maçã! Uma maçã resiste a ser comida. Uma maçã não é comida, é conquistada. A qualidade crocante de uma pêra é muito mais atraente. É generosa e frágil. Comer uma pêra é semelhante a... beijar.
BEATRIZ: Oh, céus! Parece tão bom.
VIRGÍLIO: A polpa de uma pêra pode ser ligeiramente granulosa. Contudo, derrete-se na boca.
BEATRIZ: Tal coisa é possível?
VIRGÍLIO: Com todas as peras. E isso é só o aspecto, o toque, o cheiro, a textura. Ainda nem te falei do sabor.
BEATRIZ: Meu Deus!
VIRGÍLIO: O sabor de uma boa pêra é tal que, quando se come, quando os nossos dentes mergulham na beatitude da polpa, isso torna-se uma actividade absorvente. Não se quer fazer mais nada além de comer a nossa pêra. Prefere-se estar sentado do que em pé. Prefere-se estar só do que acompanhado. Prefere-se o silêncio à música. Todos os sentidos, excepto o paladar, ficam inactivos. Não se vê nada, não se ouve nada, não se sente nada... ou apenas na medida em que nos ajude a apreciar o sabor divinal da nossa pêra.
BEATRIZ: Mas a que sabe ao certo?
Depois foi a folha em branco, o sossego instalando-se a pouco e pouco, as mãos que já desenharam os frutos pegando nos lápis hesitantes, as palavras e frases a despontarem, os textos a ganharem forma, consistência, sabor.
Não vai ficar por aqui este trabalho, a professora Maria João Cortegaça reservou a parte mais surpreendente para o final.
Não vai ficar por aqui este trabalho, a professora Maria João Cortegaça reservou a parte mais surpreendente para o final.
Estejam atentos!
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