quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

tolstoi, cem anos passados

dia dezoito de novembro, pelas dez da matina, se não estou erro, e aceite um mui-interessante convite do professor josé pacheco para comemorar, à maneira já habitual da biblioteca, o século da morte desse gigante literário cuja tradução do nome para a língua lusitana é leão tolstoi, procedeu-se à sessão propriamente dita. e aquele tipo era mesmo um leão! na nossa pequenez de compreensão e espírito, tentámos desvendar, por entre o manto diáfano da fantasia que são as obras-primas que lev, esqueçamos o por vezes ridículo leão, tolstoi deixou à humanidade, as mensagens que se lêem nas entrelinhas. e não são poucas. terminada a leitura de uma obra como guerra e paz, a primeira reacção poderá ser a seguinte,
é isto a guerra e paz?
mas com o passar do tempo chegará a conclusão de que nada mais na história da literatura universal alcançou aquele patamar. porque aquele livro tem tudo. não só guerra e paz, mas também amor, traição, ciúme, desejo, ira, amizade, vício, maldade, filosofia, política, estratégia, inveja e, sobretudo, uma procura incansável do sentido da vida.
quanto à sessão, julgo que tudo foi pelo melhor. e a originalidade da sessão consistiu precisamente na sua apresentação, pois ela repartiu-se pela minha pessoa e pela do professor josé pacheco. corroborámo-nos, completámo-nos, ajudámo-nos. no entusiasmo que a sessão suscitou, leram-se excertos da obra, sugeriram-se romances do autor e discutiram-se até teorias improváveis sobre a morte do génio. depois, falou-se do homem, do escritor, da obra, da guerra e paz, em particular, de napoleão e das suas campanhas militares, das personagens e, claro, de pierre, desse pequeno grande homem, que se perdoe a referência ao romance de thomas berger, a quem já ouvi descrever como sendo um tontinho que não sabe o que quer da vida. por muito redutor que isto possa parecer, é a pura das verdades. pois não somos nós todos uns tontinhos que não sabemos o que queremos da vida? sim, somos, mas é com homens como tolstoi que aprendemos, nem que seja somente um pouquinho, a lidar melhor com nossa pesarosa existência. e se, como disse blaise pascal, na vida não há nada de bom salvo a esperança de uma outra vida, então sempre podemos esperar que ela venha acompanhados pela literatura que tolstoi nos legou. sim, o leão morreu há cem anos. mas muitos cem anos passarão até a sua literatura se perder no vácuo que prevalecerá sobre tudo.

5 comentários:

  1. Depois de ler o texto do João (excelente, claro, desconte-se a abolição das maiúsculas...a pressa, talvez, não creio que seja influência do valter hugo mãe), os que não assistiram à homenagem a Tolstoi ficaram certamente com muita pena de não o terem podido fazer. Em compensação, terão uma ideia do que lá se passou: foi uma verdadeira Lição, quer na riqueza e amplitude de informação, quer na profundidade das leituras pessoalíssimas e complementares, da obra do grande escritor, quer, ainda, pela segurança dos oradores, num dueto entre a vivacidade entusiasta do mais velho e a contenção não menos eloquente do mais novo. Leão, sim senhor!

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  2. devo confessar que não li nada do hugo mãe, falha que colmatarei decerto um dia destes, mas o uso de minúsculas nada tem a ver com pressa, mas sim com um estilo de escrita que fui desenvolvendo ao longo dos tempos e que, apesar de alguns considerarem que desconstrói a gramática, me parece muito mais lógico do que o empregue pela maioria das pessoas.
    cumprimentos
    eça

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  3. OK! Estou esclarecida! De qualquer modo, renovo os meus parabéns e agradecimento, pela sessão.

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  4. Também queria dizer qualquer coisa, e é que a experiência me foi particularmente grata porque: a) Leão merece, b)João tão bem falou de Ressurreição, que fui imediatamente requisitar, tenho estado a ler, e não desmerece de Guerra e Paz, c) concordo que o dueto funcionou perfeitamente: agradou-me estar ali no ar com o Eça, d) a assistência bebia o entusiamo a duas vozes, particularmente a exposição articuladíssima e tão completa do meu parceiro.

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  5. Obrigado, João e obrigado à Paula e à equipa da Biblioteca.

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