O amor
e o ócio
Uma flor intrínseca ou um veneno ainda
objetos de culto de cultos sobre lençóis
postiços
se quereis diferente, diferentemente os olhos
revirados (os sonhos o cinema) ou tocar na
ferida
e pela carta aberta: «beija»! insinuando
os beijos quanta verdura oh vaso débil, planta
disfarçada na penugem todos o nome toda a mão
lhe chega
pássaro toca pérola ostra fumegante
deitado de
costas a fumar com o sexo todo
tudo assente demais na rapariga
jarra por vestir e então às voltas
bebendo e suplicando que o quadro
«…avança, encosta-lhe a pistola
ao coração. Ouviu-se porém…»
o vício? o cio? o símbolo? a salvação
de uma criança apoiada a um seio, na verdura,
ou embalada, salvé! E olha, e vê, e escuta-o,
fala, afunda-o,
mais belo, ímpar, hora a fio
bebendo o leite morno
Leite de natas, arquejante ainda
pela porta de trás a sair para o rio
Desgrenhada. Cinco horas. Se entretanto
chegar a maior noite qual de vós escolherá o
puro
amor (delirante; ocioso; os trabalhos e os
tempos;
delirante contacto: a pele) de perdição.
Perdendo-se, desaparecendo, enfim.
Anémona, Lírio, a de louco pulso o de sábios
pés
assim antigamente imorredoiros, hoje em casa
são elas as mulheres as cortinas onde ele se
enterra.
Luiza Neto Jorge, in, Cem Poemas Portugueses no Feminino
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