sexta-feira, 5 de outubro de 2012

DIA MUNDIAL DA POESIA

A escolha de… Maria Rainho (10º E)

 O  amor e o ócio
 Uma flor intrínseca ou um veneno ainda
 objetos de culto de cultos sobre lençóis postiços
 se quereis diferente, diferentemente os olhos
 revirados (os sonhos o cinema) ou tocar na ferida
 e pela carta aberta: «beija»! insinuando
 os beijos quanta verdura oh vaso débil, planta
 disfarçada na penugem todos o nome toda a mão
 lhe chega
 pássaro toca pérola ostra fumegante
 deitado de costas a fumar com o sexo todo
 tudo assente demais na rapariga
 jarra por vestir e então às voltas
 bebendo e suplicando que o quadro
 «…avança, encosta-lhe a pistola
 ao coração. Ouviu-se porém…»
 o vício? o cio? o símbolo? a salvação
 de uma criança apoiada a um seio, na verdura,
 ou embalada, salvé! E olha, e vê, e escuta-o,
 fala, afunda-o,
 mais belo, ímpar, hora a fio
 bebendo o leite morno

 Leite de natas, arquejante ainda
 pela porta de trás a sair para o rio
 Desgrenhada. Cinco horas. Se entretanto
 chegar a maior noite qual de vós escolherá o puro
 amor (delirante; ocioso; os trabalhos e os tempos;
 delirante contacto: a pele) de perdição.
 Perdendo-se, desaparecendo, enfim.
 Anémona, Lírio, a de louco pulso o de sábios pés
 assim antigamente imorredoiros, hoje em casa
 são elas as mulheres as cortinas onde ele se
 enterra.    

 Luiza Neto Jorge, in, Cem Poemas Portugueses no Feminino




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