A escolha de… Nuno Galhofo (10ºE)
A noite é calma, o ar é grave,
na sombra cai um luar vago...
Subtil, a sem-razão suave
da vida estagna como um lago
na sensação, e a alma esquece
ao fim dos parques da emoção,
ao som da brisa que estremece
as águas dessa solidão.
Nesta hora, como se entretecendo
de uma meada em mãos com sono
que vão compondo e desfazendo
em afagos desse abandono,
com sensações de mão que as tece
amão que as tece adorno a alma
e o gesto, com que teço, esquece,
Eeo fundo da alma não tem calma.
Outrora, ao pé dos balaústres
vizinhos a se ver o mar
ea noite, sonhos vãos e ilustres
deram futuro ao meu sonhar.
Hoje, amargo de só ficar-me
daqueles sonhos tê-los tido
vivo de inútil recordar-me
qual se fosse outro o eu vivido.
Outrora fui quem hoje me amo,
e não amava quem eu era.
Sem voz, oculto, por mim chamo.
Choveu na minha primavera.
A noite, sem saber de mim,
com sua vaga brisa tece
meadas de destino e fim
em dedos em que a alma esquece.
Conheço o fundo ao gozo e à dor
sem ter da dor e gozo havido
mais que a sombra sem vulto ou cor,
e dos passos o coro e o ruído.
Ó noite, ó luar, ó brisa incerta,
não me deis mais que eu nada ser.
Só me fiquei a janela aberta
da vida, e a sinto sem saber.
na sombra cai um luar vago...
Subtil, a sem-razão suave
da vida estagna como um lago
na sensação, e a alma esquece
ao fim dos parques da emoção,
ao som da brisa que estremece
as águas dessa solidão.
Nesta hora, como se entretecendo
de uma meada em mãos com sono
que vão compondo e desfazendo
em afagos desse abandono,
com sensações de mão que as tece
amão que as tece adorno a alma
e o gesto, com que teço, esquece,
Eeo fundo da alma não tem calma.
Outrora, ao pé dos balaústres
vizinhos a se ver o mar
ea noite, sonhos vãos e ilustres
deram futuro ao meu sonhar.
Hoje, amargo de só ficar-me
daqueles sonhos tê-los tido
vivo de inútil recordar-me
qual se fosse outro o eu vivido.
Outrora fui quem hoje me amo,
e não amava quem eu era.
Sem voz, oculto, por mim chamo.
Choveu na minha primavera.
A noite, sem saber de mim,
com sua vaga brisa tece
meadas de destino e fim
em dedos em que a alma esquece.
Conheço o fundo ao gozo e à dor
sem ter da dor e gozo havido
mais que a sombra sem vulto ou cor,
e dos passos o coro e o ruído.
Ó noite, ó luar, ó brisa incerta,
não me deis mais que eu nada ser.
Só me fiquei a janela aberta
da vida, e a sinto sem saber.
Fernando Pessoa
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