A escolha de... Maria João Cortegaça
O SILENCIO É DOS PÁSSAROS
Os que não têm pão
da vida inesgotável
cantam silencio em prata noturna
prata secreta da noite
vaga e fútil
das quimeras amorosas na noite
Na noite das pratas
Das pratas roubadas ao senhor mais rico
Na vida dos pássaros
na fuga da vida falhada aos gritos
um grito na altura
no espaço
entre a morte
e o último vagão da vida
Da vida dos pássaros
numa sombra que nunca se deixa apanhar
Na luz que nunca se deixa pintar
nem apagar mesmo no espelho
que te abraçou na tormenta
construída pelo lar fora
pelo lar fora dos pássaros
O fora do risco que escapou ao vento
e no picar nervoso do pássaro mais rico
Um dos pássaros mais ricos
e os dois mil voltes dum fio
que pareceu em instantes
o risco entre o vento
e o picar nervoso do pássaro mais rico
Nem o homem nem o diabo
nem a mulher
nem a labareda
Mas o fogo todo inteiro
a possibilidade inteira do fogo
a mão de fogo constante
inalteravelmente vermelho
irremediavelmente preso de amor aos dedos
sensualmente delicado em seus arabescos de morte
No céu mais mudo do silêncio
sumir em chamas
para os pássaros tudo o que antes
fôra a fuga entre a vida dos pássaros
No risco mais fino do silêncio
entre o palpitar do mundo
e a vida dos pássaros
arder muito simplesmente
em franca esperança
na dada medida do desejo-de-dentro
o dentro do fogo branco
o fogo-branco-desejo
arder na vida dos pássaros
arder em penas a cair do vento
no risco mais fino do silêncio
entre o palpitar do desejo
e o silêncio que pertence aos pássaros
Fernando Lemos in Teclado Universal
na próxima sexta
Há 3 horas
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