A escolha de… Mafalda Azevedo
(aluna até 1995)
Nenhum dos meus caminhos guarda a tua sombra:
só as minhas mãos ficaram maiores com tua ausência
e andam perdidas,
não sabendo encontrar-se mais uma com a outra.
O ventre de cada coisa é um espelho a recordar-te
- um espelho onde o meu rosto não cabe -
e eu avanço, petrificado de silêncio,
como se me chamasses,
tendo-te cada momento mais distante
nas asas cansadas dos olhos sonolentos.
Se descendo minhas pálpebras prendesse a tua imagem,
jamais amanheceria para mim.
Se minhas mãos decepadas pudessem encontrar-te,
dar-te-ia minhas mãos como espada para o teu regresso.
Assim, gasto-me nos longos túneis desta ânsia,
certo de que jamais
estarei presente para ti
em cada estrela que descobrires na noite.
José Bento, in, Silabário
Acúfenos, María Rosa Maldonado, Kriller 71
Há 8 horas
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